Desenvolvimento Cognitivo - Operatório Formal |
Nesse estágio, as operações já podem se referir a elementos verbais, e não há necessidade de ação imediata sobre os objetos, o que possibilita a operação de operações. A característica mais marcante desse estágio é a capacidade de formular hipótese, raciocinar sobre proposições verbais verificadas pela constatação concreta e atual. O sujeito adquire a capacidade de deduzir as conclusões de puras hipóteses e, não somente, por meio de uma observação real. As operações formais fornecem ao pensamento da criança o poder de destacá-lo e libertá-lo do real, ao permitir-lhe construir, a seu modo, as reflexões e teorias e possibilitar-lhe a livre atividade da reflexão espontânea. No entanto, o início desse estágio, segundo afirma Piaget (2002), é marcado pelo egocentrismo intelectual, que se manifesta pela crença na onipotência da reflexão. É como se o mundo devesse submeter-se aos sistemas e não estes à realidade. O sujeito acredita em um eu, forte o bastante para reconstruir o Universo e suficientemente grande para incorporá-lo. Ao final desse período, por volta dos quatorze, quinze anos, o equilíbrio é alcançado à medida que o sujeito compreende que o papel da reflexão não é contradizer, mas sim, adiantar-se e interpretar a experiência. Torna-se possível ligar premissas, deduzir suas conseqüências e verificá-las para chegar às próprias conclusões. O pensamento do sujeito torna-se hipotético-dedutivo, ao aplicar conceitos básicos de pensamento científico. As inversões reúnem-se em um único sistema de transformações e dão origem à combinatória, ao grupo das duas reversibilidades e às operações proposicionais. Piaget (1969), ao referir-se à combinatória, afirma que esta consiste em combinar objetos ou juízos de todas as formas possíveis. O grupo das duas reversibilidades ou grupo das quatro transformações (grupo INRC) é constituído por inversão (N), reciprocidade (R), transformação nula ou idêntica (I) e a correlativa dual (C) a qual é inversa da recíproca. As operações proposicionais resultam de uma combinatória e possibilitam ao sujeito combinar idéias, raciocínios e hipóteses. Consistem na implicação (p implica q), na disjunção (ou p, ou q, ou as duas juntas) e na incompatibilidade (só p, ou só q, ou nenhuma das duas). Piaget descreve o pensamento adolescente como a capacidade de considerar as possibilidades e testá-las. Assim, o pensamento do sujeito não vai mais do real para o teórico, mas começa da teoria para estabelecer ou verificar relacionamentos reais entre as coisas. Ao invés de apenas coordenar os fatos, a respeito do mundo real, o raciocínio hipotético-dedutivo tira as implicações de possíveis afirmações e, desse modo, origina-se uma síntese do possível e necessário. Para o sujeito, trata-se não somente de aplicar as operações aos objetos, ou melhor, de executar, em pensamento, ações possíveis sobre estes objetos, mas de “refletir” estas operações independentemente dos objetos e de substituí-las por simples proposições. Esta “reflexão é como um pensamento de segundo grau que implica na representação de uma representação de ações possíveis.” Para resumir, pode-se concluir que o estágio operatório formal é a última fase de construção das operações infralógicas e lógicas, cujo caráter mais evidente é que o sujeito, diferentemente dos estágios anteriores, não se restringe mais a raciocinar diretamente com os objetos concretos ou suas manipulações, como as operações de classes, de relações, de números e operações espaço-temporais. O alcance de seu desenvolvimento faz-lhe chegar a deduzir de modo operatório a partir de simples hipóteses, que são enunciadas verbalmente (lógica das proposições). Desse modo, a forma adotada pelas estruturas operatórias consiste em dissociar-se de seu conteúdo, daí, a possibilidade de raciocínio hipotético-dedutivo ou formal. |